Dados do Trabalho
Título
Estupor Catatônico na Demência Frontotemporal
Apresentação do caso
Uma senhora de 95 anos, sem antecedentes psiquiátricos, até então gentil e referência de conduta para parentes e amigos, passou por mudança insidiosa de personalidade caracterizada por desinibição e inadequação social, hipersexualidade, e ausência de insight. Ofendia e agredia fisicamente quem tentasse cuidar de sua higiene e alimentá-la (negativismo ativo). Vários meses depois, surgiram estereotipias verbais, deterioração da marcha e incontinência biesfincteriana. Em alguns anos, tornou-se incomunicável e muda, apresentando flexibilidade cérea, e reflexos de sucção labial e preensão manual (estupor catatônico). Sertralina, olanzapina e eletroconvulsoterapia não produziram benefício. A ressonância magnética revelou atrofia assimétrica (D>E) frontotemporal, parietal e do tronco cerebral ventral, bem como atrofia simétrica do caudado e do vermis cerebelar. Foi diagnosticada demência frontotemporal (DFT). Faleceu de sepse cinco anos após o início dos sintomas sem se recuperar do estupor catatônico.
Discussão
A primeira fase da doença ilustra as manifestações essenciais da variante comportamental da DFT. Estupor catatônico, que emergiu gradualmente a partir das alterações de conduta, foi relatado na DFT em apenas 8 casos. Acreditamos que a desinibição inicial se relacionou à degeneração frontotemporal, enquanto o estupor catatônico refletiu a progressão da degeneração para os córtices parietais.
Comentários finais
Este caso (i) acrescenta a catatonia à lista crescente de síndromes neuropsiquiátricas clássicas sintomáticas de DFT, e (ii) sustenta a hipótese de que lesões parietais facilitam comportamentos de evitação que encontram no estupor catatônico sua expressão mais característica.
Palavras-Chave
Catatonia, Demência Frontotemporal, Neuropsiquiatria.
Área
Neuropsiquiatria geriátrica
Autores
GUSTAVO CAMPOS DE FRANÇA, HENRIQUE DE BARROS BARRETO, THIAGO PARANHOS, RICARDO DE OLIVEIRA-SOUZA