XX Semana Brasileira do Aparelho Digestivo

Dados do Trabalho


Título

CASO INCOMUM DE DISFAGIA: DISFAGIA LUSÓRIA

Apresentação do Caso

Mulher, 74 anos, sem perda de peso, com disfagia moderada para sólidos há 12 anos. Múltiplas endoscopias digestivas altas (EDAs) foram realizadas nesse período, sendo normais, exceto por aspecto sugestivo de cardioespamos. No início dos sintomas uma manometria convencional evidenciou hipertonia isolada do esfíncter inferior esofágico, com relaxamento normal às deglutições. Nessa época fez uso de isossorbida sublingual sem melhora. Uma dilatação balonada da cárdia foi sugerida, porém não foi realizada. Em 2021, com persistência da disfagia, a paciente voltou a procurar assistência médica. Uma manometria esofágica de alta resolução solicitada se revelou normal pelos critérios de Chicago. Uma nova EDA, evidenciou compressão extrínseca, regular, pulsátil, transversal, em esôfago proximal, comprometendo cerca de 50% da luz. Isso levantou a suspeita de disfagia lusória (DL). Uma angiotomografia (angio-TC) de tórax confirmou o diagnóstico de DL, demonstrando compressão extrínseca por artéria subclávia direita de implantação anormal em arco aórtico com trajeto anômalo na face posterior do esôfago cervical.

Discussão

A DL tem diagnóstico desafiador, pois sua apresentação é de forma insidiosa e intermitente. A EDA chega a ser normal em mais de 50% dos casos. O esofagograma pode evidenciar a compressão do esôfago, porém tem baixa sensibilidade para o diagnóstico. A manometria esofágica, convencional ou de alta resolução, em geral se revela normal ou com alterações inespecíficas. O diagnóstico de certeza se faz pela angio-TC, a qual só é requisitada diante de um alto grau de suspeição diagnóstica. O tratamento cirúrgico com a mudança do trajeto do vaso anômalo e seu reimplante no arco aórtico chega a ser necessário em alguns pacientes durante a infância ou juventude quando evolui com disfagia grave, mas na grande maioria, a doença só se manifesta tardiamente pelo enrijecimento vascular e pela aterosclerose. Nesse subgrupo, a disfagia é menos intensa, intermitente e contornável por adaptações alimentares, só raramente causando déficit nutricional. O tratamento para esse subgrupo, no qual se inclui nossa paciente, se limita ao aconselhamento dietético.

Comentários finais

Nosso caso descreve uma variante anatômica rara de arco aórtico com artéria subclávia esquerda aberrante levando à compressão extrínseca do esôfago cervical e consequente disfagia. Pretendemos destacar a necessidade de conhecer e incluir as compressões vasculares anômalas do esôfago no diagnóstico diferencial das disfagias benignas.

Palavras-Chave

Disfagia lusória; ; disfagia; esôfago, endoscopia

Área

Endoscopia - Endoscopia digestiva alta

Autores

NYVIA MARIA BARROSO PORTELA, GILDO BARREIRA FURTADO